Fernanda Mariutti: "Eu realizo! Sou muito criativa, adoro um planejamento, mas tenho o dom de realizar"

Olá, seguidores, hoje estou disponibilizando uma entrevista que realizei com a Fernanda Mariutti, esposa do baixista do Shaman Luís Mariutti, um exemplo de mulher, de garra, determinação,um exemplo de filha,mãe,esposa, amiga, empresária. 

Rock e suas vertentes: Olá Fernanda, seja bem-vinda ao Rock e suas vertentes1, primeiramente nos fale sobre os motivos pelo qual levou você a gostar de Rock/Metal.

Fernanda Mariutti: Obrigada Ester, e Rock e suas vertentes pelo convite.Eu sempre amei ouvir música, na casa dos meus pais eu ouvia Elis Regina, Rita Lee, Titãs e muita música clássica. Com 6, 7 anos, Elis era muito Rock para mim, na atitude, nas letras e essa rebeldia foi moldando meu gosto musical. Nas rádios eu ouvia Bon Jovi, Brian Adams, Whitesnake, Survivor, Scorpions... Mas não conhecia as bandas, não sabia nem os nomes, só cantava as músicas. O clássico disco da (Globo) "Love metal" foi um dos primeiros discos que comprei.Na escola com uns 14 anos, um amigo me mostrou o Roots do Sepultura, mas na época achei muito agressivo, então esse mesmo amigo me emprestou o Angels Cry do Angra e eu nunca mais devolvi. A partir do Angra, comecei a ouvir Iron Maiden, depois Black Sabbath, Judas, Queen... e não parei nunca mais. Eu tinha encontrado meu estilo de vida. 

 

2.Rock e suas vertentes: Você acha que a presença das mulheres no rock em geral, seja como vocalista/guitarrista, ou qualquer outro tipo de função nas bandas, ou até mesmo nas divulgações contribui para igualdade de gêneros? 

Fernanda Mariutti: É representatividade né. Em certo momento da minha vida eu era a única menina que gostava de Metal. Então era difícil, era muito julgada, me achavam masculinizada, drogada, perdida na vida... enquanto todos falavam que era uma fase eu sentia a necessidade de provar que era o meu estilo de vida. Então eu batia de frente com muita gente, o que uma menina de 14 anos está fazendo com um monte de garotos? Eu queria meu espaço e ser do jeito que eu queria ser. Então, não sei se traz igualdade, mas traz segurança para cada vez mais mulheres tomarem seus lugares de direito dentro do Metal. 

 

3.Rock e suas vertentes: Hoje temos muitas mulheres envolvidas no metal, um exemplo disso é você, Daísa entre outras, porém sabemos que ainda existe um certo preconceito quanto a isso, o que você acha que é preciso fazer para que haja uma união mais igualitária entre os gêneros? 

Fernanda Mariutti: Acredito que estamos fazendo tudo que é preciso, tomando nosso lugar de direito. Quando eu entrei na cena metal de São Paulo, pelo menos no nicho que eu me envolvi, mulheres eram vistas como troféus ou passatempo dos caras de banda.Se você queria conhecer a sua banda favorita no camarim e não estava acompanhada do namorado "provedor do metal" era logo taxada de groupie e era muito triste. A única função de trabalho que rolava para nós era vender mershandesing,e eu fiz muito isso na busca do meu espaço. Mas quando se é esposa de músico a faixa de "yoko ono" é pendurada no seu peito e muitos empresários, técnicos e os próprios músicos se utilizam dessa artimanha para desmerecer e até se isentar dos próprios erros e equívocos. Sempre foi mais fácil culpar mulheres do que assumir responsabilidades como homens adultos.Quase 20 anos depois, as coisas mudaram muito. Hoje a gente não precisa do aval de ninguém, nós vamos e fazemos, muitas vezes melhor do que os caras. E isso é o que devemos fazer. Lógico que a gente tem que discutir igualdade e respeito, mas tem horas que precisamos para de falar e agir com respeito por nós mesmas. 

4.Rock e suas vertentes: Qual sua visão sobre a atual cena de heavy metal no Brasil? 

Fernanda Mariutti: Eu vejo que movimentamos muitas pessoas. Pessoas de bem, engajadas, mas precisamos nos unir conscientemente.Somos vaidosos, achamos que o nosso estilo é o melhor, técnico, melódico, cheio de pessoas inteligentes e de personalidade, mas vejo pessoas com tempo para comentar fofocas ou dizer palavras odiosas em formato de opinião, mas sem tempo de assistir um clipe, ouvir uma banda nova. Vejo fãs aprenderem os primeiros acordes, e achando que viraram músicos, já não tem mais que desempenhar o papel do fã. Vejo músicos consagrados se renderem aos boatos e discórdia para manter sempre uma certa visibilidade.O termo para a nossa Cena é responsabilidade. Sabermos que depende de nós que o estilo que amamos, que as músicas que mudaram as nossas vidas sejam propagadas. E mais, que precisamos renovar para que as novas gerações se interessem pelo que temos a dizer. Precisamos nos lembrar do porque começamos a ouvir Rock e ser ativos. Eu valorizo muito o trabalho de formiguinha! Um comentário positivo aqui, várias curtidas ali, valorizar o antigo e incentivar o novo.  

5.Rock e suas vertentes. Já faz quase 2 anos, que você e o Luís mantém o canal no YouTube com lives semanais, acha que tem sido uma maneira de conectar os fãs nesse momento de pandemia? acha que o canal ganhou maior visibilidade? 

Fernanda Mariutti: Na verdade, são 3 anos. Iniciamos esse trabalho em 2018. 2017 foi um ano de retomada na vida musical do Luís,ele voltou para os palcos e eu insisti para que fizéssemos esse canal. No começo foi difícil, mas aos trancos e barrancos fomos conseguindo superar as adversidades e quando a pandemia chegou nós já estávamos bem estabelecidos. Foi o que nos salvou,pois,tanto os shows como as aulas de Muay Thai pararam totalmente. 

O canal continua crescendo, não acho que a pandemia tenha dado maior visibilidade, em certo momento até esgotou as pessoas pelas quantidades de lives e programações.Mas nós conseguimos nos estruturar melhor para trazer um conteúdo consistente e de qualidade para os inscritos. 

6.Rock e suas vertentes: Houve um tempo em que você dava aulas de Muay Thai, havia um certo preconceito dos Homens, em relação a isso? 

Fernanda Mariutti: Eu sou instrutora de Muay Thai há 10 anos, no início não era nada fácil,lidar com os machos do tatame. Muitos alunos não aceitavam que eu era mais técnica e muitas vezes queriam medir força comigo. Era muito triste, por que eu treinei muito, me dediquei e gastei muito dinheiro me formando e criando meu time. Ter que brigar com alunos,para ensinar era muito estressante. Então em certo ponto eu quis ensinar só mulheres. Saí das academias e só dava aulas personal para mulheres, o que me mostrou que esse era o meu caminho. Ensinar mulheres a se defender e tomar posse de seus corpos. Hoje não estou dando aulas,mas tenho muitas alunas ainda,e apesar de estar mais envolvida na música nesse momento,eu me considero professora, essa é a minha profissão e o Mariutti Team não me deixa esquecer.

7.Rock e suas vertentes: Você gravou a Wasting Love com o Mayki Fabiani e o Luís, qual foi a sensação que sentiu ao saber da repercussão positiva de todos, teremos mais gravações? 

Fernanda Mariutti:Todo novo ano eu decido fazer alguma coisa diferente, algo novo que me desafie. E cantar foi um desses desafios. Comecei a ter aulas com o Leandro Caçoilo, para me expressar melhor e ter controle da minha voz que é potente mas sem técnica. O teacher que nos incentivou a gravar músicas. Gravei várias com ele no estúdio de voz dele,mas só a wasting Love que divulgamos.Não me considero cantora,não é o que eu quero ser,eu me divirto com os amigos, canto nos eventos para extravasar, não tenho pretensão de ser uma front woman. Mas eu gosto de estar no palco, me comunicando com as pessoas. Fico muito feliz com os comentários positivos e as vezes abalada com as críticas, mas logo eu me fortaleço e continuo fazendo as coisas que me dão prazer e me deixam feliz. Ainda não tenho nada planejado, mas não digo que é impossível vcs verem mais alguma música na minha voz. 

 

8.Rock e suas vertentes: Como foi organizar a festa da firma? 

Fernanda Mariutti: A festa da Firma foi o último evento que fizemos em São Paulo antes da pandemia. Para coroar o ano de 2019 que tínhamos iniciado nessa aventura de fazer eventos. O quarto evento do ano,fizemos até premiação de melhores do ano. Foi muito divertido! Tínhamos perdido o Andre,foi um baque aceitar que o Shaman poderia acabar,depois de todos os esforços...então pensamos que não poderiamos esmorecer,e os eventos foram uma forma de continuar na ativa,diante de todas as adversidades.Foi na festa da Firma, em Dezembro, que apresentamos o Shaman com Alirio pela primeira vez.Espero que ano que vem possamos voltar com os eventos! 

9.Rock e suas vertentes: Quais as características mais marcantes sobre o seu trabalho e como você poderia defini-lo? 

Fernanda Mariutti:Eu realizo!Sou muito criativa, adoro um planejamento, mas tenho o dom de realizar. Tudo que eu quero, consigo tirar do papel. Sou uma boa unterlocutora e com isso consigo muitas parcerias. O Luís é um cara muito querido,o que abre muitas portas também. O Mariutti Team tem uma excelente reputação, unimos pessoas e buscamos uma cena que seja Boa para todos, músicos, técnicos, empresários, fãs, casas de show...lutamos para que cada um entenda a sua importância na hora de fazer a roda do Metal girar, quando todos ganham as coisas funcionam. 

10.Rock e suas vertentes: Você atualmente tem bastante destaque nas redes sociais e YouTube, quais são seu planos agora e no futuro? 

 Fernanda Mariutti: Estou trabalhando muito nas redes do Luís e do Shaman. Atualmente mantenho os dois canais com conteúdo semanal,além do nosso Zine,da loja,do site. Mas a ideia é termos mais um canal,onde eu não apenas administre mas possa estar mais ativa em frente à camera. Não sei dizer se sai daqui 1 mês ou 1 ano, mas estamos trabalhando a ideia, delegando funções,expandido as alianças para que isso possa acontecer.

 11.Rock e suas vertentes: Quais são as suas referências no cenário Rock/Metal em geral? 

Fernanda Mariutti: Minha maior referência é o Luís Mariutti, com ele eu aprendi muitas coisas e tive a oportunidade de crescer profissionalmente. Ele sempre acreditou nas minhas ideias e capacidade,é o alicerce do Mariutti Team.E como ele, levo a característica de estar sempre aprendendo. Se algo me toca,me prende,me interessa,eu levo isso pra minha vida. E com isso tenho conhecido muitas mulheres incríveis do Metal Nacional. Todas elas me influenciam, apesar de que em sua grande maioria, elas são bem mais jovens que eu,me identifico com a vontade delas de conquistar e não se deixar abalar. Fernanda Lira é uma mulher admirável, assim como a Priscila,deram show de maturidade e ensinaram aos homens como se termina e iniciam novos projetos. As mulheres do nordeste Grazy da Lasting Maze, Hanna Paulino, Polly Freitas, que dão show de influência na internet. As meninas da resistência Eskrotas, Headbangueira...e tem a mulherada da Luta, Jaqueline (que fez o clipe do Angra), Tainara Lisboa, Tainã Ursa, poxa eu me emociono demais com essas mulheres. O que me influencia e a paixão de viver daquilo que se ama. 

12.Rock e suas vertentes:Entrando agora no campo afetivo, quando você estava grávida do Enzo, o Luís estava em turnê e em algum momento você se sentiu insegura,por estar vivenciando essa experiência sozinha? 

Fernanda Mariutti: Insegura não, sozinha sim. Eu nunca tive medo de nada, ou se tenho medo enfrento pra valer, mesmo que isso custe alguns pitis e muitas lágrimas.Quando eu decidi me relacionar com um homem da estrada eu me preparei para isso. Não era fácil, mas como a Boa virginiana que sou,sei que consigo fazer tudo bem feito,mesmo que seja sozinha. E foi assim. Eu cheguei a fazer uma mudança de casa com o Enzo tendo 6 meses de vida. Não sou perfeita, mas encaro de frente todos os desafios da minha vida. Mas o Luís sempre foi um pai presente. Logo com 1 ano de idade do Enzo,o Luís parou de tocar e ele se dedicou muito aos filhos. 

13.Rock e suas vertentes: As crianças frequentam muito shows com você e o Luís? 

Fernanda Mariutti: Quando tinham shows sim(risos). Eles adoram, principalmente os shows do pai, onde eles são tratados como príncipes (risos). 

14.Rock e suas vertentes: Em função da pandemia, os shows estão paralisados,como vocês tem feito para lidar com esse momento? Você participa atualmente na divulgação de tudo o que envolve o Shaman, qual era o seu pensamento antes da pandemia e agora durante esse momento?

Fernanda Mariutti: Estamos 100% voltados para a internet e tentamos levar o Shaman com a gente. Como disse antes, nós tivemos a sorte de termos uma comunidade formada quando a pandemia começou e com isso sentimos menos a transição das coisas. Para o Shaman vou dizer que foi muito difícil. Essa banda é formada por guerreiros. Lutamos pelo Reunion e em menos de uma ano dessa Vitória, perdemos o Andre, com ele nosso chão. Juntamos os cacos e encontramos o Alírio. Não começamos do zero, mas a sensação era essa,de conquistar tudo de novo. Aí veio a pandemia para mudar tudo de novo, canso só de falar (risos). 

Inicialmente eu estava presente no Shaman como canal do Luís, para documentar os momentos e fizemos isso muito bem.Com a pandemia a banda precisava estar mais ativa na internet e ofereci todo o meu expertise para comandar essa frente deles. Está dando certo, as redes tinham pouco mais de 10k e hoje estamos próximos dos 40k, fora toda a movimentação que fez, por exemplo, a venda do relançamento do DVD Ritualive ser surpreendente. Foram 1000 reservas em menos de 12hs. Fico muito feliz de fazer parte disso, o Shaman é muito importante pra mim. 

15. Rock e suas vertentes: Agora a fabricação do Zine deu uma parada, ou vai voltar em breve? 

Fernanda Mariutti: Eu amo o zine impresso, mas o digital tem um alcance muito melhor. Estou com vontade de reformular todo o Zine. A nossa editora chefe, Paula Cortinovis,está de licença maternidade, então estou, por enquanto,planejando. Mas até o fim do ano vamos dar uma boa mexida no Zine! 

16.Rock e suas vertentes: Você foi a responsável por plantar a idéia na cabeça do Luís sobre escrever o livro, e enquanto você digitava os textos se emocionou ao relembrar dessas histórias? 

Fernanda Mariutti: Muito! Não foi nada fácil relembrar de algumas situações, mas estávamos ali para isso, para sermos verdadeiros e contarmos a história do Luís. A gente aceita tudo que nos aconteceu com respeito, humildade e atenção, pois algumas feridas nunca cicatrizam. 

17.Rock e suas vertentes:Você é inspiração para muitas pessoas, inclusive para mim, qual o conselho você daria para as meninas/mulheres que querem seguir nesse meio do rock/Heavy metal? 

Fernanda Mariutti: Poxa,muito obrigada. Eu sempre tive muita paixão por tudo que eu já realizei, então essa é a minha dica.Tenham paixão pelo que vocês fazem, e não deixem ninguém dizer que vocês não são boas o suficiente. Eu acredito que tudo acontece na hora certa para quem acredita e se prepara. Então estude,esteja pronta para quando o seu momento chegar. 

18.Rock e suas vertentes: Deixo esse espaço para você falar o que quiser, fazer o mershandesing do livro,fique a vontade. 

Fernanda Mariutti: O Livro do Luís é mais do que a história do baixista que fez sucesso no mundo todo.É o relato de um homem bom, que luta para ser reconhecido pelo seu talento e caráter. É um livro completo,tem humor,drama, revelações,romance,sucesso,um livro obrigatório para quem curte metal ou uma boa leitura.Valeu pessoal!