Olá seguidores, eu sou Ester do Rock e Suas Vertentes, e correspondente do HTDR em Goiás esta é a primeira entrevista do ano de 2025, e é com Rody Cáceres, o criador do Outsider Fest, bem-vindo Rody! Enfim espero que vocês curtam a entrevista, pois está bastante interessante, Feliz Ano Novo para todos!
1-Porque o nome outsider?
Rody: O termo “outsider”, no mundo da música, é utilizado para denominar artistas musicais que não são músicos profissionais ou têm dificuldades, de muitas ordens, para manter um trabalho que corresponda às expectativas de um publico cada vez mais mimado e de um mercado que reduziu quase a zero a subjetividade do artista em sua própria obra. Decidi usar o termo (e me aprofundar em seu significado) após perceber que eu não teria muitos lugares para tocar na minha cidade (Rio Grande/RS), já que meu repertório é 100% autoral e a cena musical é de bandas covers. Sou um artista musical idiossincrático, escrevo sobre temas que me são caros e nunca penso na receptividade do público. As pessoas que assistiram algum show meu perceberam isso, e apesar das palmas caridosas, eu sabia que o estranhamento não era esperado. Depois dessa epifania, entendi que sou um “outsider”, mas não somente pela reação do público ou por meus excessos subjetivos, mas por questões ainda mais profundas que estou desenvolvendo em um livro sobre o tema a ser lançado em breve. Existem mais “outsiders” ao nosso redor do que imaginamos, e quase nenhum sabe como buscar seu espaço ou criar uma cena em que seu trabalho tenha pleno cabimento. O mundo da arte foi dominado pelos “normies”. Acho que ser um “outsider” também é uma oposição à fingida normalidade mercadológica das artes. Mas bem, vou desenvolver melhor esses temas no livro.
2-Como surgiu o Outsider Fest?
Rody: Após me entender como um “outsider” e parar imediatamente com a busca exaustiva de uma expressão correspondente à estética dominante, entendi que só conseguiria tocar em algum lugar por caridade dos amigos. Sou agradecido a todos os amigos que se importaram em me dar um espaço para mostrar minhas músicas, mas também não posso me negar um espaço em que meu “tipo artístico” atue a partir do que ele realmente é. Assim, após receber um puta apoio do Guilherme, dono do bar Punk Rock Café, em Rio Grande, convidei alguns artistas locais para participar do evento. Tive a honra de ter, no primeiro Outsider Fest, a gloriosa Nasty N’ Loaded, que dispensa apresentações, o Michel Alves, compositor de ótimas canções pops radiofônicas, e o Wolmer Souza, um cara bem jovem que começou a mostrar suas composições no festival. Ótimas composições, destaco. Também toquei nesse primeiro e a íntegra do show está no Youtube. Então, a ideia principal do Outsider Fest é dar espaço para artistas começando a mostrar seus trabalhos. O espírito é esse: trazer o que é novo, idiossincrático, fora do normal, subjetivo e mostrar para o público. Portanto, mesmo a ideia tendo partido de mim, um “outsider fest” pode acontecer em qualquer parte do planeta, desde que guardando os critérios de ser autoral, independente e cheio de coração. Falando assim, fica rasa a ideia, pois muitos festivais tem os mesmos critérios para participação de artistas. Por isso estou escrevendo o livro: deixar mais claro , sem dogmatismo, como funciona a mente de um outsider e quais os filtros de sua arte. Há muito o que se pensar sobre.
3-Nos conte um pouco sobre a cena no seu estado, tem algum apoio?
Rody:Confesso que sou alienado de qualquer cena musical. Conheço algumas bandas da região sul, mas o que conheço deve dar algum percentual bem perto de zero por cento do todo. Tenho um espírito meio distante e não costumo me arrolar a movimentos de qualquer ordem. Tem a ver com minha mentalidade outsider. Chega a se engraçado o quanto repito esta palavra, mas levei muito tempo para me entender e estou muito feliz em saber o motivo de meu jeitinho peculiar. Mas bem, o que vejo da cena musical é o domínio do cover em todos os estilo musicais. Tenho críticas a isso, apesar de apoiar o trabalho dos amigos que tocam em bares onde só é permitido o cover. Para os músicos, é trabalho. E muitos destes que tocam em bandas de animação têm um trabalho autoral forte. Mas nem o público e menos os bares dão espaço para a autoralidade na música. Mas isso não acontece só na música, dá pra ver o mesmo nas artes gráficas, na literatura, em tudo. Às vezes, mesmo trabalhos autorais são covers desmontados de trabalhos de sucesso. O cenário artístico planetário, hoje, é dominado pelo “ismo” do mercantilismo (em um acepção contemporânea em que a estética, os temas, os tons, as cores e todo o resultado tem como única e exclusiva meta ser rapidamente reconhecido e consumido pelo público). O que se perde? Subjetividade. Sem sujeito, não existe arte. Assim está a cena local e planetária.
Sobre o apoio, o único apoio que temos é do bar Punk Rock Café, a Meca do som underground de Rio Grade/RS e nosso CBGB.
4-Quais bandas/músicas o inspira?
Rody:São muitos, claro, mas os principais, hoje, são Daniel Johnston e Kurt Cobain. Ambos são exemplos de outsiders, o primeiro por suas idiossincrasias e distanciamento, o segundo por sua notável incapacidade de se adaptar ao mercado. Kurt sempre dividiu opiniões, mas com a lente certa ele faz sentido: era um artista underground (quase usei “outsider”, mas o leitor reviraria os olhos :D) que alcançou o sucesso e não teve condições de lidar com toda pressão comercial sobre seus ombros. Outro detalhe importante sobre é a oposição ao controle. Explico.
A música do Nirvana não é sobre controle técnico, mas sobre expressão extrema do sujeito. A maioria da música consumida pelos normies passa pelo filro do “controle técnico”. Nirvana fora do estúdio é pura anarquia, por isso, muitas vezes, soa tão mal para ouvidos mimados. Ainda não alcancei isso. Tudo que faço está entre o controle e a expressão inexorável do sujeito (eu).
5- Como você enxerga a música no panorama musical nacional?
Rody:Tudo está acontecendo como deve acontecer a partir da normificação da expressão humana. Escuto quase nada que sai de novo. Quando ouço, me soa como música de elevador. Não posso opinar sobre algo que não presto a atenção. Um exame seria profundo e demorado, tendo o valor de uma vida. Mas pra não ficar pairando alto demais, quase fora da atmosfera, lembro que gosto muito do Rogério Skykab e dos artistas de minha região. Recentement,e conheci o som da Stoneblock, que vai tocar no Outsider Fest 2, e achei espetacular. Nasty N’ Loaded também é incrível. Tenho escutado Kangaroo’s Cinema, do Pietro Madeira, e Iguais e diferentes, do Gu Carvalho, artistas que vão estar no OF2. Ando ouvindo também minhas próprias músicas, pois vou lançar algo em breve. De resto, ando bem por fora.
6- Qual a sua maior dificuldade enquanto músico?
Rody:Não chega a ser uma dificuldade, mas uma característica mental: só toco quando me é bom. Música tem uma qualidade lúdica pra mim, mas não confunda com hobbie. Me importo muito com a música que faço, mas ela não é uma jornada em busca do olimpo técnico, mas sim um transbordar do meu euzinho. Logo, não passo muito tempo estudando e me desenvolvendo tecnicamente. Seria uma dificuldade, mas acho que é quase uma qualidade.
7-O que você acha da nossa Cena atual?
Rody: Acho que respondi esta nas questões anteriores.
8- Qual a importância do HTDR para vocês?
Rody:Puxa, o HTDR abre espaço para muitos artistas que não conseguem divulgação ampla. É um trabalho hercúleo. Quando fui entrevistado na página, recebi uma injeção de ânimo para continuar o trabalho. Só quem faz algo no underground sabe o quão difícil é realizar qualquer evento. Às vezes nosso público e só quem está tocando. Receber apoio de um pessoal que trabalha para e pelo o underground nos anima. Quando posto algo, aparece alguém do HTDR e compartilha, curte, comenta. É uma baita injeção de ânimo. Vida longa ao HTDR!
9-Recebemos uma pergunta do nosso amigo Ringo, e que achei bem interessante. Qual a maior dificuldade em promover um evento autoral?
Rody: A falta de público. Nesse ponto, preciso louvar o Punk Rock Café, que abre espaço para minhas loucuras, fornece a aparelhagem e ajuda na divulgação. Na boa verdade, aqui no extremo sul do RS, temos baixíssimo público e falta de recursos para realizarmos qualquer coisa. Sem público pagante e sem dinheiro para investimento, tudo morre. O apoio do Punk Rock Café é fundamental. Sem o bar, não existiria “Outsider Fest”. Estamos lutando para mostrar às pessoas que é louvável e também divertido apoiar incondicionalmente o cenário autoral local. Essa é a luta.
10-Para você, qual a chave do sucesso?
Rody:Não sei. Gostaria de saber. Talvez o sucesso não exista, somente exista o resultado comercial de uma campanha de marketing. No meu caso, sendo um artista independente e alienado, sucesso seria ter mais de dez fãs tocados pelo meu trabalho. Tenho me dedicado para poucos: minha irmã, meu filho e meus sobrinhos. São os únicos que conhecem minhas músicas e falam sobre elas. Eles estão em todos os shows e parecem gostar de algumas das minhas composições. Se esse número de fãs aumentar, vou considerar um tremendo sucesso. Mas para mim, conseguir lançar meu próximo trabalho já vai ser extremamente gratificante.
11-Quais são as características marcantes do seu trabalho?
Acho que o registro costumeiramente lo-fi (meio que virou uma ideologia pra mim), os excessos subjetivos em minhas letras e a execução simples ao vivo. Estou feliz e confortável com o que faço. Minhas letras são ácidas, críticas ou melodramáticas. Meu repertório de show é meio incoerente e ainda não coloquei minhas composições de Black Metal entre as outras para não ficar excessivamente destoante. Em breve, tudo vai ficar ainda mais louco. É disso que eu gosto: causar impacto. Mas também quero entrar no coração das pessoas. O leque fica arregaçado, então minhas principais característica são o panlirismo (neologismo aqui) e a música em busca de um minimalismo que ainda não alcancei. Com tempo vai ficando mais claro para mim e para quem me acompanha. Espero que no fim de minha carreira ninguém saiba me definir.
Considerações finais: parece-me adequado que as pessoas tenham um contato com o conceito de "arte outsider". Toda arte é uma extrapolação da linguagem. O que não cabe na fala e na comunicação ordinária vira arte. É uma necessidade humanada e não pode permanecer apenas num cercado erudito ou comercial. As pessoas precisam fazer arte para vencer o pragmatismo seco da vida. Se tenho uma meta na vida, é ajudar as pessoas a se permitirem fazer arte. Acho que é isso.
Obrigada pela entrevista Rody, conte sempre com nosso apoio.
Até a próxima pessoal!
Uma honra poder fazer parte da história de mais um inquieto artista under autoral. Sentimos as mesmas dificuldades e por isso nos identificamos com nossos irmãos de luta. Parabéns Rody pela coragem de desafiar a confortável mesmice e parabéns Geizinha pela entrevista.
ResponderExcluirParabéns pela entrevista!!!
ResponderExcluirAqui é Anslemo Quinto da web rádio o DNA do rock, estou muito feliz por todo trabalho desenvolvido pelo Blog e ao entrevistado.
ResponderExcluirÓtima entrevistas,clara, sincera e com pontos bem objetivos, sucesso Rody e viva o underground e música autotal.
ResponderExcluirObrigado a todos pela leitura e ao HTDR e ao RESV pelo espaço. Significam muito pra mim - Rody Cáceres
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